terça-feira, 18 de dezembro de 2012

DIÁRIOS DA PARAÍBA (3): Fique calmo...



A melhor tradução do jeito “keep calm” de ser eu fiquei conhecendo no taxi, indo pro aeroporto de João Pessoa. Observei que a operadora do rádio, que transmite aos motoristas as instruções sobre as corridas solicitadas, não se limitava a dar os dados dos passageiros, local, essas coisas. Ela conversava, docemente com eles, ainda que com frases curtas.

De início achei que o taxista estava ouvindo algum programa de rádio, mas logo me dei conta que não era isso. Perguntei-lhe, então, se aquilo que eu estava ouvindo era o que eu estava imaginando. Ele, muito entusiasmado, me contou sobre a funcionária, querida por todos os motoristas, que os anima durante a dura jornada de trabalho pelas ruas e estradas (o aeroporto, por exemplo, fica em outro município), levando e trazendo gente de todo lugar.

Os taxistas, me contou ele, ficam ansiosos para que chegue o turno da tal funcionária. Havia um carinho verdadeiro nas palavras daquele homem. A tal moça (esqueci seu nome...), continuava ele, não apenas os ajuda a vencer o dia, com sua conversa informal, mas os tranqüiliza, dá força àqueles que enfrentam problemas. Ela sabe, por exemplo, quem está com a mãe doente, quem está mais cansado e os anima e reconforta.

Esta incrível e improvável funcionária de uma cooperativa de taxis da Paraíba, transmite um estímulo que só o afeto pode passar. Estabelece uma vinculação, mais do que mera conexão (lembrando aqui o professor Muniz Sodré). Uma prova simples e inegável de que as máquinas são o que as pessoas fazem delas e/ou com elas e que a sociabilidade, os vínculos, podem se estabelecer nos espaços e dos jeitos mais inusitados.

Quando voltar a João Pessoa, vou tentar reparar meu erro e resgatar o nome esquecido e, quem sabe, até conhecer pessoalmente esta doce, generosa e decidida “paraíba masculina mulher-macho sim senhor”.


 

PS: Pantim é puro paraibês e pode significar “frescura”, chilique”, algo por aí. Segundo apurei com fontes confiáveis (a vendedora, paraibana da gema), as crianças crescem ouvindo das mães: “deixe de pantim!”. E não é que até achei o verbete num dicionário informal?

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