segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Sala Escura: ROTA IRLANDESA



Ken Loach é um cineasta necessário. Seus filmes não raro cumprem um papel que devia ser da mídia. Se o cinema nos abstrai da realidade, o de Ken Loach nos joga de encontro a ela, às vezes com mais, às vezes com menos força, (como em À procura de Eric, 2009). Mas sempre com propriedade.

 “Rota Irlandesa”, tal como “Kes” (1969) é daqueles primeiros: coloca o dedo na ferida sem pena. À narrativa ficcional, Loach junta imagens de arquivo, cenas documentais da guerra no Iraque. Expõe vísceras como expõe os obscuros, fétidos, insalubres labirintos por onde transitam as decisões que instauram e alimentam as guerras.

Muitos filmes já mostraram como homens que viveram dentro da guerra, caso do nosso personagem Fergus (o excelente Mark Womack), carregam a guerra dentro de si, mesmo quando retornam ao lar. E Fergus, além da dificuldade de conviver com suas lembranças, defronta-se com a morte do melhor amigo, em condições suspeitíssimas. Na busca da verdade e da justiça que crê possível, ele se confrontará com as próprias escolhas que havia feito e que o levaram a, após deixar o exército, engajar-se nas milícias que prestam serviço de segurança aos figurões que transitam pelo cenário da guerra.

O cinema de Loach nos prende na cadeira não por arroubos estéticos, imagens elaboradas. O diretor inglês é econômico, mas preciso, certeiro na escolha do que coloca na tela. Sem meias palavras, Loach escancara os interesses econômicos e políticos que destroçam corpos e mentes e mantêm o sangue escorrendo pelas ruas de cidades como Bagdá.

ROTA IRLANDESA (Route Irish)
Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty
(Reino Unido/França/Bélgica/Itália, 2010 , 109min)


           http://www.tumblr.com/tagged/route-irish



PS: Depois de escrever este texto, li no jornal O Globo da última sexta-feira, 02/11, a matéria do jornalista Rasheed Abou-Alsamh, intitulada “A guerra secreta, via computadores”, sobre a disseminação de vírus em redes estratégicas e até o assassinato de cientistas iranianos.

No portal G1 a matéria não está mais disponível, encontrei no Luis Nassif:
http://www.advivo.com.br/blog/francisco-nixon-frota/a-guerra-secreta-via-computadores

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