quinta-feira, 24 de maio de 2012

O LUGAR DA FOTOGRAFIA


O século XX e principalmente o XXI serão marcados como tempos de apelo visual, paixão (muitas vezes cega?[1]) pelas imagens. As novas tecnologias democratizaram a produção de imagens, embora não raro tenham servido para uma banalização da arte fotográfica ou cinematográfica. Dar acesso a quem quer e precisa se expressar é uma das grandes conquistas do digital, mas quando falamos em talento, arte, temos de ser mais cautelosos.


 Ao nos depararmos com fotos como as da exposição Simplesmente Doisneau, no CCJF, percebemos o quanto o olhar, mais que a técnica ou o suporte (negativo ou digital) é que faz a diferença. A mostra traz fotos das décadas de 1930 a 1980, que, além do valor estético, servem como um painel da História no século XX.

Mostram uma Paris com muita pobreza, por vezes suja e desordenada, como em “Os mendigos de Pont Neuf” (1953). Mas há também instantes de pura beleza, como no retrato de Picasso (1952) ou na foto “A escada” (1952), que revela com muita sensualidade e sob uma iluminação perfeita a silhueta de uma mulher, o contorno de uma perna, um dorso... enquanto um homem, em primeiro plano, de costas, a observa.

Há sequências adoráveis, como “A vitrine de Romi” (1948), que captura o olhar dos passantes em direção à vitrine que expõe a tela de um nu. Ou a série “Diante da Mona Lisa” (1945). Doisneau capta as reações das pessoas com extrema sutileza e perspicácia.

Os trabalhos são muitos e variados: o carregamento de um caminhão, numa composição geométrica (1968), “A porteira com o gato branco”, onde há espaço para também um cachorro (1945) e a cidade francesa com placas em alemão, no ano de 1944. Paris tomada pelos nazistas.

Do outro lado da Avenida Rio Branco, na Caixa Cultural, a World Press Photo 2012 conta a história, mais para sangrenta do que festiva, do ano de 2011. A foto vencedora (do espanhol Samuel Aranda, para o The New York Times) é de uma beleza infinitamente triste, nos emociona e emudece. Oculta pela burka, uma mulher acolhe nos braços o filho, ferido em conflito entre a polícia e opositores ao regime no Iêmen. 


No caminho entre o CCJF e A Caixa Cultural, na Praça da Cinelândia, segue a exposição A Terra vista do céu, como um aperitivo para a Rio+20, com 130 fotos do ativista francês Yann Arthus-Bertrand. Imagens deslumbrantes e assustadoras desta nossa casa, planeta a girar na imensidão, povoado por homens sábios, e por homens insensatos.




Veja detalhes na Agenda do blog e também:

Images reproduzidas:
Le baiser de l'hôtel de ville (R.Doisneau)
Culturas nas margens do Rio Uruguai, Província de Misiones, Argentina (Arthus-Bertand)


[1] “Uma paixão cega pelos meios visuais?” é um texto do antropólogo José Carlos Rodrigues.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sala Escura: SETE DIAS COM MARILYN



O ano era 1956. Então casada com o escritor Arthur Miller, Marilyn Monroe (Michelle Williams) desembarca na capital britânica para filmar com Sir Laurence Olivier (Kenneth Branagh). Dá-se então o encontro de dois universos totalmente opostos. Sempre atrasada, esquecendo as falas, mas irresistivelmente sedutora, Marilyn fazia de cada dia de filmagem uma jornada de dor e prazer, desespero e recompensa.

O roteiro muito bem estruturado não permite que estas situações recorrentes sejam aborrecidas, ao contrário, mantém o espectador atento às novas estripulias da bela, ainda que por vezes se repitam.

Aparentemente insegura e dependente de remédios e álcool, a Marilyn que vemos se mostra frágil e sufocada pelo peso da fama (a “galinha dos ovos de ouro”), mas também sabendo manobrar os que a cercam. O jovem terceiro assistente de Sir Olivier, Colin Clark, vivido com plena convicção por Eddie Redmayne, se permitirá cair na teia da loura, e viverá uma experiência única, ainda que fugaz.

O diretor Simon Curtis (e Michelle Williams corresponde), é hábil em colocar na tela uma estrela que oscila entre assumir seu papel de mero símbolo sexual e ser uma atriz de verdade. O fato é que sua fraqueza é também sua força e, ao final, todos sucumbem a seu poder de sedução. 
 
Graeme Turner, no livro Cinema como prática social, fala dessa aura de sensualidade e infantilidade de estrelas nos anos 1950, quando a sexualidade passava a ser vista com naturalidade, sem culpa. Há um vínculo entre sexualidade e inocência que, para o autor, explicaria a imensa popularidade da atriz.

A música Autumm Leaves embala com delicadeza esta irresistível história de uma mulher que, 50 anos após sua morte, parece que ainda está ali, de pé sobre o respiradouro, vestido esvoaçando, dividida entre ser uma estrela ou apenas ser feliz.

Site Imagem Filmes:

Aqui você encontra fotos e um relato sobre a passagem de Marilyn por Londres.


SETE DIAS COM MARILYN
(My week with Marilyn)
Simon Curtis (EUA/Inglaterra, 2011, 99min)