sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

PRAÇA LIBERDADE

No vazio espacial que se abre na Av. Treze de Maio, talvez construtoras, empreiteiras, políticos, se apressem em construir um novo prédio, moderno e “seguro” (como se os antigos não pudessem sê-lo).

Já outros vazios não serão facilmente preenchidos. As vidas interrompidas deixam não apenas quartos e cadeiras vazios, pertences que se descartam ou trocam de dono. Há vazios que permanecerão na rotina e na alma de quem perdeu seus amigos, colegas, parentes, amores.

Há ainda vazios que serão preenchidos pelo trauma, pelo pânico, como para aqueles que sobreviveram. Há vazios mesmo em quem não está diretamente ligado à tragédia, mas é assaltado à noite, tirado do sono, pela lembrança das imagens chocantes, pelo medo, pelo sobressalto.

Esses vazios poderão ser preenchidos por fé, afeto, esperança, trabalho, planos, saudade, terapias. Quanto àquele vazio que se abriu na avenida que leva no nome a data simbólica da libertação dos negros escravos, onde se levantavam prédios carregados de história e valor arquitetônico (coisas pouco ou nada valorizadas pelas políticas públicas, que deveriam estar à frente na tarefa de resguardar nossa segurança e nossa memória), naquele espaço deveria se estender uma praça, com flores e verde.

Não mais uma praça para moradores de rua (que nem deveriam existir, mas ser acolhidos, pois morador e rua são palavras que não combinam). Uma praça com bancos e árvores para uma pausa no ritmo cada vez mais frenético da metrópole, onde pudéssemos nos desligar dos celulares e observar a cidade, o outro e até nós mesmos.

Uma praça a ser cuidada por todos, autoridades e cidadãos, cariocas e “estrangeiros”, com zelo e respeito. Uma praça chamada Liberdade.

Fica aqui minha sugestão.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O CINEMA ROMPENDO GRADES

O francês Alain Bergala, um pesquisador e professor que propõe o casamento entre educação e cinema, disse que foi “salvo” duas vezes na vida: pela educação e pelo cinema. Segundo ele, aqueles que, tal como ele, experimentam carências diversas, desde a material à carência de informação, educação, incentivo, janelas, enfim, para sonhar e desejar, encontram sua “salvação” em algum projeto que os estimule a resistir, a buscar.

Diz ele que para esses ”deserdados, distantes da cultura [...] a única chance de existir é resistir a partir de uma paixão pessoal”(1) .Entendo que esta paixão, que nos permite resistir às adversidades e persistir na busca de realização pessoal, é feita de concretude e sonho, de razão e sensibilidade. E é desta matéria que também é feito o cinema.

Falo de Bergala para chegar ao Preciso (Programa de Cinema Social) e ao CineCreed, um evento que leva o cinema para dentro de um presídio militar de Pernambuco. Já foram realizadas três edições e o envolvimento dos detentos, assistindo e participando das oficinas, foi total. Familiares, comerciantes e moradores também se mobilizam em torno do evento.

Agora, os responsáveis pelo Preciso/CineCreed pretendem realizar o Carnaval no Cárcere, uma mostra de curtas metragens que percorrerá os presídios do Estado durante os dias de Carnaval. Eles aguardam a aprovação das autoridades e nós aqui ficamos torcendo para que este encontro aconteça. E não é apenas o encontro dos presos com obras audiovisuais, mas de uma polícia com os cidadãos que a ela cabe proteger, de uma população com homens que cometeram algum delito, estão cumprindo suas penas e merecem a chance de retomar dignamente suas vidas.

A arte, em todas as suas manifestações, é uma ponte confiável e promissora para unir estas pontas, para acender luzes, abrir janelas. Que estas iniciativas sejam um passo em direção a projetos maiores, em que o cinema (seja em película ou digital), com sua magia e sua técnica, possa ser um mediador entre cada indivíduo e o outro, cada indivíduo e sua própria subjetividade.

Links:

http://reconstruindoacidadania.blogspot.com/2010/11/encerrado-o-ii-cinecreed-mostra-de.html

http://www.policiasysociedad.org/forum/index.php?topic=44.0

http://www.folhape.com.br/cms/opencms/folhape/pt/cotidiano/noticias/arquivos/2011/outubro/0183.html

http://ilopamas.blogspot.com/2012/01/setima-arte-dentro-de-presidio-em.html



(1) BERGALA, Alain. A Hipótese-Cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008 (p.13)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A PAZ É DOURADA

já o apoio a nosso cinema...

O Presidente da RioFilme, Sergio Sá Leitão, já levou uma saraivada de críticas (merecidas) alguns meses atrás, ao questionar a editoria da Revista Rio Show (O Globo) por ter dado capa ao crescente número de produções independentes e salas de exibição alternativas na cidade. Sá Leitão argumentava que naquele momento, o fato realmente importante era a estreia de Harry Potter 7 (veja links abaixo).

Vejo agora, na lista Cinemabrasil, e-mail do cineasta Noilton Nunes, com data de ontem, sobre a recusa da RioFilme em apoiar a distribuição/exibição de seu filme A Paz é Dourada, inspirado na vida do escritor Euclides da Cunha. Não assisti ainda a este filme do Noilton (vi, há alguns anos, no Festival de Cinema Ambiental Cine Gaia, o Kuki Hitchuti), mas sei que a obra tem tido uma trajetória de sucesso.

Não que precisemos da certificação de plateias estrangeiras para só depois aferir o valor de nossos produtos culturais (como, aliás, infelizmente, costuma acontecer), mas não se pode ignorar o fato de que o filme tem sido bem recebido no exterior. O cineasta informa que o filme será exibido na Europa, e pergunta:

Logo agora que os franceses e aos alemães descobriram o filme, que vai passar em Paris e Berlim em março, o que é que eu vou dizer no Le Monde? No Libération? No Figaro? Na TV franco-alemã, sobre a distribuição e exibição no Brasil? Que vergonha.”

Como cantavam os tropicalistas, nos versos de Gilberto Gil, “É preciso estar atento e forte!”

http://oglobo.globo.com/blogs/arnaldo/posts/2011/07/23/a-grande-fila-um-alo-sergio-sa-leitao-cronica-de-hoje-no-globo-394089.asp

http://sombraseletricas.blogspot.com/2011/07/ha-cretinice-de-um-regime-impossivel.html