segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A PERDA DE UMA CRENÇA

Por algum motivo, lembrei-me hoje de um texto de Arthur Koestler (1905-1983) que nos foi passado como exercício no curso de Especialização de Tradutores do (já falecido) professor Daniel Brilhante.

Considero este texto bastante interessante e sempre oportuno. Crenças e posições ideológicas à parte, qual de nós nunca se sentiu em tal situação?

A PERDA DE UMA CRENÇA (Arthur Koestler / tradução T.C.Fazolo Freire)

A entrada de uma crença na vida de uma pessoa é um acontecimento aparentemente espontâneo, como uma borboleta eclodindo de seu casulo. Mas o fenecer da crença é lento e gradual; mesmo após o que parece ser o último adejar das asas cansadas, há ainda uma débil convulsão.

Toda crença verdadeira mostra esta obstinada recusa em morrer, seja seu objeto uma religião, uma causa, um amigo ou uma mulher. O natural horror ao que é vão aplica-se também à esfera espiritual. Para fugir do vazio ameaçador, o verdadeiro crente não hesita em negar as evidências de seus sentidos, em desculpar qualquer decepção, tal como um marido traído dos contos de Boccaccio. E se a ilusão não pode mais ser preservada em sua integridade original, ele irá adaptar e modificar sua forma ou tentará salvar pelo menos parte dela.

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