sábado, 16 de abril de 2011

ÁUREA, UMA PÉROLA

Há muitos anos assisti a um documentário sobre o Balé Bolshoi. Não lembro muita coisa, a não ser que era lindo e me emocionou. Mas me lembro de uma cena em que algumas bailarinas, crianças ainda, ensaiavam passos que aparentemente eram simples, mas o professor não se dava por satisfeito. Então ele fala algo mais ou menos assim: as coisas simples são as mais belas e também as mais difíceis.

Bem, talvez a frase tenha sido outra, mas o que estava em questão era a dificuldade de se realizar coisas simples e como estas são belas. Lembrei-me disso ontem, assistindo a uma pequena jóia chamada Áurea, um curta com jeito de documentário, que o diretor Zeca Ferreira garante que é um filme de ficção.
A proposta de Zeca é falar dos cantores que trabalham na noite, anônimos, mas capazes de fazer de cada noite um espetáculo único, sensíveis aos variados freqüentadores de casas noturnas, boates. Contudo, pouca atenção se dá a estes artistas, como se suas vozes não tivessem um dono. O que interessa ao diretor é o trabalhador que existe por trás desse artista, que a cada noite, apagadas as luzes, terminada a festa, pega um ônibus para voltar para casa. E a casa fica longe.
A cantora excepcional que é Áurea Martins dá vida à personagem criada por Zeca, mas a verdade que a artista carrega em si transborda da tela, fazendo com que esqueçamos se ao que estamos assistindo é documentário ou ficção. Áurea é econômica nas palavras, nos gestos, na interpretação das músicas. Sua voz – tal como a de Nana Caymmi – não precisa de alarde para chegar ao mais profundo de nossas almas. E Zeca Ferreira, dosando palavras, música e silêncios, captou com extrema competência e delicadeza toda essa simplicidade. E beleza.

PS: Agradeço ao amigo Clementino Jr, do Cineclube Atlântico Negro, a oportunidade de assistir Áurea e de participar da conversa com Zeca e a própria.

2 comentários:

Fred Burle disse...

Muito legal, Tecelã.
Vou procurar este curta para assistir. Se você gosta destes filmes de dança-simplicidade-arte-emoção, espere só para ver Pina, do Win Wenders, que deve chegar ao Brasil ainda este ano.

Abraço

Tecelã disse...

Valeu, Fred, o comentário e a dica. Win Wenders é mestre!
Abçs.