domingo, 12 de setembro de 2010

Sala Escura: ANTES QUE O MUNDO ACABE

Um filme com a cara da Casa de Cinema de Porto Alegre. Não, isso não é demérito, ao contrário, o pessoal de POA, Jorge Furtado à frente, tem nos dado ótimos trabalhos. O filme de Ana Luiza Azevedo não chega a ser surpreendente, mas de modo algum desagrada. Deve-se sentar para vê-lo como sentamos (refiro-me aos adultos e já maduros como eu) para conversar com um adolescente. É preciso paciência, tolerância, generosidade. Uma pitada de senso crítico, sim, mas também devemos estar preparados para algumas surpresas, algumas respostas inesperadas.

Em geral, o filão “filme adolescente” – na verdade não apenas os filmes, mas a sociedade, publicidade à frente – imbeciliza o jovem. Com o quê ele é identificado? Consumir, beijar na boca, comer junk food, matar aula, passar horas no computador, ao celular, etc... etc... Daí este filme é uma boa surpresa, pois vai mais fundo, oferece e pede mais a essa turma entre os 12 e... bem, não se sabe mais quando a adolescência acaba.

O jovem Daniel, personagem de Pedro Tergolina (excelente, fiquem de olho nele), mora numa pequena cidade gaúcha e periga viver uma vida sem grandes emoções. Entretanto, as palavras do pai desconhecido, que lá dos confins do mundo passa a mandar-lhe cartas e fotos instigantes, o conduzirão na sua travessia pelas peripécias comuns na vida de um estudante: confusões na escola, uma namorada que o deixa pelo amigo, o primeiro porre... e também a relação com a família. A sensibilidade do garoto faz a diferença. Ele consegue vencer a desconfiança provocada por aquele estranho que tem nome igual ao seu. E o que está latente nele – a capacidade de ver mais longe, de enxergar o mundo – desabrocha.

Em sua trajetória de amadurecimento, Daniel e seus amigos defrontam-se com questões como ética, amizade, compreensão, honestidade, responsabilidade. Sem caretice, apenas com autenticidade. Atuações sinceras, bom roteiro, fotografia competente e um bonito retrato não apenas de jovens rumo à idade adulta, mas de um Brasil com cores, linguagens e sotaques que não vemos com frequência nas telas de cinema e menos ainda nas de TV. Não tem data de estreia ainda, mas quando estrear, vá ver antes que acabe. Sabemos que filmes brasileiros – especialmente se não forem da Globo Filmes – não duram nas telas nacionais.


ANTES QUE O MUNDO ACABE
Direção: Ana Luiza Azevedo


Nenhum comentário: