domingo, 2 de maio de 2010

Sala Escura: O SEGREDO DE SEUS OLHOS


Ainda dá tempo de assistir a esta obra prima do cinema argentino. Esqueça o futebol, Maradona x Pelé, velhas rivalidades. Os hermanos estão mesmo dando banho na telona. O filme de Campanella merece cada grama da estatueta que ganhou em Hollywood, o cobiçado Oscar (que, apesar dos esforços dos brasileiros, ainda não deu as caras por aqui).

Como filme policial, é preciso, um quebra-cabeça de encaixes perfeitos. As mais de duas horas de projeção passam sem esforço, a tensão não esmorece, mantendo acesa a curiosidade pelo que a cena seguinte vai nos trazer.


A fotografia soberba dá “voz” às imagens que muitas vezes falam por si: a grandiosidade do Tribunal onde frequentemente se pratica uma justiça pequena, deformada; ambientes que vão se revelando aos poucos, primeiro em closes, depois em planos mais abertos, entregando-se gradativamente ao espectador.

Tudo no filme está na medida exata: a ditadura militar corrupta e cruel, como pano de fundo que contextualiza e oferece ingredientes à trama policial, sem se sobrepor; o conflito existencial de um homem que se divide entre presente e passado e tenta reescrever sua vida ao escrever um livro; o humor e a irreverência; a paixão entre um homem e uma mulher tolhidos por insegurança, medo e regras sociais. E aí a história de amor que há dentro deste filme cercado por violência e morte é contada com extrema sutileza, nos olhares e silêncios de Ricardo Darín e Soledad Villamil , ambos excelentes, aliás como todo o elenco, destaque para Guillermo Francella (Sandoval).

É um filme que gruda na memória, por todas as faces que tem. E bate aquela saudade dos personagens, como se quiséssemos continuar mais tempo com eles. Imperdível para quem ama o cinema e para quem não ama também. Com certeza, vai passar a gostar mais depois de assistir a este filmaço.


O SEGREDO DE SEUS OLHOS (El secreto de sus ojos)
Direção: Juan José Campanella
Argentina/Espanha, 2009 – duração: 2h09m