domingo, 11 de outubro de 2009

ONDE O SÉCULO XXI SE ENCONTRA COM ANTIGOS SABERES

A Feira Brasil Rural Contemporâneo é um sucesso, a julgar pela multidão que se espremia ontem, “viajando” de um estado para outro, nos pavilhões armados na Marina da Glória. O tempo ruim pode ter atrapalhado as atividades externas, na Praça de Alimentação e no Tablado de Raiz, mas na área coberta, dividida pelas regiões do Brasil, as atividades fervilhavam.

A diversidade de produtos oferecidos – biscoitos, queijos, frios, cachaças, bonecas, mel, bolsas, e muito mais – enche os olhos do visitante e os carrinhos de compra circulavam abarrotados de belezuras e gostosuras. Produtos orgânicos, sabores nortistas, mineiros, sulistas; artesanatos confeccionados por mãos indígenas e quilombolas, com palhas e fibras variadas e sementes de frutos de nomes sonoros. Do norte ao sul, passando pelo centro-oeste, todos os sotaques, peles rosadas, morenas, caboclas e negras.

Por trás disso, além do valor de cada trabalhador rural, descobrimos muitos projetos – estaduais ou federais – que vêm sendo desenvolvidos por esse Brasil afora. Um deles é o Projeto Dom Hélder Camara, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), com atuação no Nordeste, já no seu sexto ano. Está presente em 77 municípios e envolve mais de 15 mil famílias, combatendo a pobreza levando soluções de baixo investimento ao semi-árido.

No nosso Estado do Rio, a Secretaria de Agricultura, pecuária, Pesca e Abastecimento desenvolve projetos voltados para a agricultura familiar, tais como: Rio Horti (horticultura), Rio Genética (pecuária, produção de leite e carne), Rio Peixe (de assistência técnica à promoção do escoamento da produção pesqueira); Florescer (floricultura), entre outros. Segundo folheto informativo da Secretaria, das 62 mil propriedades rurais do estado, 92% possuem área inferior a 100 hectares, ou seja, o pequeno produtor, que trabalha em família, é o grande fornecedor de alimentos de nossa população.

As manifestações artísticas também estão na Feira, trazendo para as margens da Baía de Guanabara o Reisado, o Maracatu, o canto das Quebradeiras de Coco de Babaçu, e tantas outras festas de ritmos e cores irresistíveis. No palco multicultural, um encontro entre o carioca Gabriel, o Pensador e o baiano Bule Bule, que há mais de 30 anos divulga e preserva os sons nordestinos. Unindo os dois, além da musicalidade e irreverência, o olho atento às questões sociais. No show, também a banda Feira Livre (RJ).

É fundamental para quem vive nos grandes centros urbanos conhecer este Brasil que trabalha, produz, movimenta a economia, preserva culturas centenárias sem abrir mão dos avanços tecnológicos, promovendo uma integração entre passado e presente que acena para nós com um futuro mais promissor do que vislumbramos quando lemos os jornais das grandes cidades. Enquanto nossa rotina é invadida por medo de assaltos, balas perdidas, enquanto nos cercamos de grades e perdemos boa fatia de nossa existência (e paciência) nos engarrafamentos, um Brasil que a maioria de nós desconhece – ou ignora – pulsa em outro ritmo. Vivem num paraíso? Claro que não! Sua história tem muita labuta, superação de dificuldades, inclusive de preconceitos. Mas sem dúvida vivem numa outra realidade e é na soma dessas realidades – urbana e rural – que está aquele “país do futuro” que o Brasil há décadas busca encontrar.

Nas fotos:
Gildete Vasconcelos, tecelã mineira
Produtos Orgânicos
O boneco Osvaldão, com o manipulador Carlos (Arcas das Letras)
Gabriel, o Pensador e Bule Bule no Palco Multicultural

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O BRASIL RURAL ANCORA NA MARINA DA GLÓRIA

A partir de hoje, e se estendendo por todo o feriadão, um Brasil sem mar aporta na Marina da Glória. E o que traz na bagagem não é pouca coisa, tudo dividido em seis espaços temáticos: Amazônia, Talentos do Brasil, Organização Produtiva das Mulheres Rurais, as Praças dos Orgânicos, do Artesanato e da Cachaça, e em sete espaços de redes de cooperativas e associações.

A IV FEIRA BRASIL RURAL CONTEMPORÂNEO (a 2ª edição no Rio de Janeiro) é uma ótima oportunidade para o carioca, e quem vive nesse aglomerado urbano, conhecer a força da agricultura familiar no país. A importância desse modelo de produção agrícola, em tempos de gigantes do agronegócio, é inegável, pois garante o sustento de famílias, gera empregos, fixa o trabalhador no campo evitando a migração para as cidades, que já não conseguem oferecer condições dignas de vida a boa parcela de seus habitantes.

O evento tem uma programação cultural (com mais de 30 espetáculos musicais em 3 espaços diferentes), cortejos de grupos de cultura popular que desfilarão pela cidade, uma programação técnica (com rodadas de negócios e seminários) e uma institucional (como a abertura e lançamento de publicações).

Um belo programa para o feriadão: conhecer melhor nossa cultura, comprar produtos diretamente dos produtores, assistir a ótimos shows, saborear uma comidinha gostosa, mergulhar enfim nas letras, artes, cores, sons e sabores desse Brasil profundo que parece tão distante das grandes cidades, mas faz parte de nossa vida urbana, por meio do que produz. E tantas coisas mais tem para nos oferecer. Visite o site: http://portal.mda.gov.br/feira2009/.

Brasil Rural Contemporâneo – VI Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária
De 7 a 12 de outubro de 2009
Local – Marina da Glória – RJ
Ingressos: 5,00 e 2,00 (para a Feira) – 20,00 e 10,00 (para os shows)
Horários: quarta-feira à sexta-feira – 13h às 22h
Sábado à segunda-feira – 10h às 22h

sábado, 3 de outubro de 2009

ARTE CUBANA PARA ALÉM DO CARTAZ


Vale a pena conferir a exposição CARTAZES CUBANOS: UM OLHAR SOBRE O CINEMA MUNDIAL, na Caixa Cultural. É uma admirável seleção de cartazes produzidos pelo ICAIC- Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica, entre os anos 1960 e 1990.
Em Cuba a promoção de qualquer obra cinematográfica é feita pelo ICAIC e os filmes estrangeiros sempre ganham um novo cartaz, o que abriu caminhos para os artistas gráficos da Ilha.

É uma oportunidade única para presentear nossos olhos com formas, cores e texturas simplesmente arrebatadoras. São cartazes concebidos não apenas para divulgar os filmes (cubanos e estrangeiros) que representam, mas constituem-se eles próprios obras de arte. Até o dia 26/10, veja na Agenda.

UMA JOIA NO INGÁ

A proximidade com uma cidade exuberante e famosa como o Rio faz com que Niterói fique, digamos, na sombra, ali... meio esquecida. Algum destaque na agenda cultural geralmente acontece por conta do MAC (Museu de Arte Contemporânea) e da assinatura famosa que a obra carrega: a genialidade do centenário Oscar Niemeyer.

Mas a cidade que espia os cariocas do outro lado da Baía de Guanabara guarda outros tesouros. O Museu Antônio Parreiras é um deles. Estudei na UFF (Universidade Federal Fluminense) e morei por um par de anos em Niterói (algumas décadas atrás, a cidade era bem diferente), mas ainda não tinha entrado na belíssima construção da Rua Tiradentes, no Ingá. E eu não sabia o que estava perdendo.


O homem – nascido em 1860 em São Domingos, Niterói (um bairro adorável onde morei por alguns meses) – amava as árvores. Digo isso não porque tenha estudado sua biografia, mas porque as pintou divinamente. Há mais de cem anos as olhava com um olhar de ambientalista (na foto, Árvore Morta, de 1936). As telas expostas logo na primeira sala nos capturam, quase dá para sentir o cheiro da floresta. Não entendo de pintura, artes plásticas, mas de emoção sim. E é um sentimento ora perturbador, ora reconfortante que aquelas telas nos provocam.

Há outras belas obras expostas, retratos de uma terra sendo desbravada. São expressões faciais e corporais captadas com precisão, sensibilidade e vigor. Não visitei todo o Museu, que abrange ainda uma extensa área verde e outra construção onde funcionava o ateliê do artista. Mas é como guardar um pedaço do doce para saborear mais tarde. Voltarei ao Ingá, com certeza. Veja mais em:
http://www.neltur.com.br/port/aondeir_mus_antpar.htm