domingo, 30 de agosto de 2009

Sala Escura: TEMPOS DE PAZ


Assistir a um bom filme é, pra mim, uma das coisas que fazem a vida valer a pena. Se o filme é brasileiro, melhor ainda. Foi com esta sensação (além da lágrimas nos olhos) que saí do Arteplex, na Praia de Botafogo, ontem à noite. E mais ainda, porque o filme que vi era a transposição para a tela de uma peça a que assisti há alguns poucos anos: Novas Diretrizes em Tempos de Paz, de Bosco Brasil. As atuações irretocáveis de Tony Ramos e Dan Stulbach se repetem na tela, em cada fala, gesto, olhar, suspiro, suor, lágrima, grito. São como as cordas de um instrumento, ora tensionadas, ora afrouxadas, emitindo diferentes sons, que despertam diferentes sensações.

Daniel Filho acertou – apesar das críticas de alguns – em incluir alguns cenários e personagens no filme, originalmente inexistentes na peça. Se em alguns momentos estes não se afinam integralmente com a narrativa, não chegam a comprometer a história centrada no embate entre o imigrante polonês e o Chefe da Imigração no Brasil, no ano de 1945. Dificilmente o espectador sairá ileso da sessão. Um filme que toca por falar de guerra, violência, intolerância, da obediência cega e do livre arbítrio, de pessoas embrutecidas, da história deste país, e da força da arte, do teatro, capaz de despertar a humanidade guardada no mais profundo de cada um, até num Segismundo, personagem de Tony Ramos.

Que bom seria se a Globo Filmes sempre pusesse sua força em filmes desse quilate.

TEMPOS DE PAZ
Direção: Daniel Filho
12 anos, 82 min.

FOTOGRAFIA A SERVIÇO DA CIDADANIA


Um experiente fotógrafo, cujas fotos vemos diariamente estampadas nas bancas de jornal, coloca sua técnica a serviço da cidadania, da emoção. É um Silva, como tantos brasileiros, é um Severino, como tantos irmãos nordestinos. E suas lentes, acostumadas a captar o que o que vira notícia nos jornais, se voltam para pessoas anônimas, uma população “invisível”, que povoa as brechas desta cidade.

Severino Silva teve a atitude de se aproximar dessas pessoas e, através da fotografia, tentar estabelecer uma ponte entre elas e seus possíveis parentes e amigos. Wilton Jr, também fotógrafo, deu a ideia do blog. Surgiu o Fotos e Reencontros.

Na falta de políticas públicas eficientes, Severino faz a sua "política pessoal". Discretamente, este Silva realiza um trabalho admirável, ao se voltar para essas pessoas, levar-lhes algum benefício material e, principalmente, a solidariedade que mata outras fomes que não a de comida. Confira em : http://www.fotosereencontros.blogspot.com/


Foto: Artesanato mineiro, de Bichinho (Teresa Fazolo).

domingo, 23 de agosto de 2009

Sala Escura: VERONIKA DECIDE MORRER


... E NÃO VAI FAZER FALTA

Pensei que não seria justo comentar o filme sem ter lido o livro, mas... qual o quê? (como diria Chico Buarque). O filme tem de se garantir por si próprio. E Veronika decididamente não convence como obra sobre o labirinto da alma humana. Para falar de morte, suicídio, crise existencial, seria preciso ir mais fundo, criar mais tensão. Para compensar a superficialidade, a diretora Emily Young recorre a momentos de silêncio, closes, imagens difusas, ou planos bacanas, capricha na fotografia, mas... e daí?

Fui ao cinema, numa manhã de sexta-feira, desarmada, sem preconceitos (ou quase, vá lá!) para ver um filme baseado num livro de Paulo Coelho. As atuações honestas de Sarah Michelle Geller e Jonathan Tucker não são suficientes para transmitir ao espectador o frio na espinha, o incômodo, a reflexão que o tema propõe. Alguns momentos são totalmente desprovidos de verdadeira emoção, como o encontro de Veronika com os pais, na clínica de tratamento. Frio, vazio...

Veronika é uma bela moça bem sucedida que decide morrer porque não acredita mais no mundo. A tentativa se frustra e ela vai parar numa clínica psiquiátrica onde é informada que tem pouco tempo de vida, por conta de complicações devidas à overdose. Daí ela descobre (?) outras possibilidades no mundo, convivendo com os demais pacientes e sendo submetida a um tratamento pouco convencional. Alias, o melhor do filme é o doutor Blake, vivido por David Thewlis. Créditos também a Melissa Leo.

Se você é um dos milhares de fãs de Paulo Coelho, possivelmente vai gostar de ver Veronika projetada na tela, mas eu decidiria por outro filme em cartaz na cidade.

Veronika Decide Morrer (Veronika decides to die)
Direção: Emily Young
EUA, 2009
Classificação: 14 anos
Site internacional: http://www.veronikadecidestodiethemovie.com/
FOTO do site: http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=6642