sábado, 13 de junho de 2009

CONFRONTO: TEATRO NECESSÁRIO



CONFRONTO é feito da mesma matéria – literalmente – de Tropa de Elite. Mas não é cinema, é teatro. Sai a correria frenética, batidão de funk, cenários e locações espertos, ricos em detalhes. Ficam, além dos tiros, o impacto, a denúncia, o alerta.

Domingos Oliveira percebeu que o tema "violência urbana", presente em livros e filmes, ainda não tinha ocupado os palcos. Daí, escreveu, a seis mãos – com Luiz Eduardo Soares e Marcia Zanelatto – CONFRONTO, uma livre adaptação do livro Elite da Tropa, de Soares, A.Batista e R.Pimentel.

Domingos Oliveira é mestre em elegância. Lembra-me Truffaut, que conseguia falar de coisas trágicas sem esvaziar sua gravidade, mas com um toque de humor ou de leveza. No texto não há sobras ou faltas: é enxuto, sem ser frio; é criativo, sem perder o foco, como uma flecha ornada de plumas, que dispara ao alvo certo. E o alvo é confrontar o espectador com a realidade que o cerca e, frequentemente, cega.

A narrativa em off, na voz de Domingos, tem a medida certa. Com descrições sutis e precisas, mais do que explicar, ela permite ao espectador entrar no clima da ação que vai surgir, como o cenário num filme antecipa o que vai acontecer. Domingos é homem de teatro e de cinema. E com igual competência.

O elenco, seguro e inspirado, mantém o espectador mergulhado na trama. O texto final, onde transborda emoção, fecha o espetáculo como uma suave carícia, um alerta, um aviso, um chamado, uma cobrança às políticas públicas, um lampejo de esperança, lembrando que ser cidadão não é apenas viver em sociedade, mas transformar a sociedade. Só tem um defeito: acaba amanhã (14/06). No Teatro Sesc Copacabana. Não percam!


CONFRONTO, por seus autores:

“Trata-se de uma fábula inspirada em certos acontecimentos comuns na nossa cidade maravilhosa! O realismo talvez não exista na arte. Atualmente, até os documentaristas concorda que nada é mais ficcional do que um documentário. Nem mais delirante do que a realidade”. (Domingos Oliveira)

“A realidade da segurança pública [...] é mais fantástica do que qualquer fantasia ficcional. Por isso, com a liberdade exigida pela arquitetura dramatúrgica, abrimos a boca de cena para o veneno real. Mas sem perder o fio de esperança com que se fabricam outros mundos possíveis”. (Luiz Eduardo Soares)

“Trabalhar com Luiz Eduardo e Domingos, homens que conseguem manter lucidez e esperança caminhando juntas, tarefa quase impossível, me confirmou que definitivamente a segurança tem saída. [...]. ... minha alma estava turva de desesperança. Não está mais. Agora sei que a solução é muito mais possível do que se divulga nos jornais, o nome dela é amor, amor à humanidade”. (Marcia Zanelatto)

Um comentário:

Na Mira da Rima disse...

oi Tereza, grata pela visita.
Sim, Confronto é uma peça inspiradora. E ainda consegue fazer o público rir e se emocionar ao mesmo tempo.

poetabraços

clauky