sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

SALA ESCURA - O LEITOR

O LEITOR (The Reader ou Der Vorleser), filme de Stephen Daldry que estréia hoje nos cinemas, é uma colcha de retalhos que, não fossem habilmente costurados, poderia resultar num filme pretensioso e frustrante. Ao mesclar na mesma trama sentimentos e conceitos diversos – como culpa, honestidade, paixão, orgulho, vergonha, justiça, - o filme viaja pela alma humana, provocando emoção e fazendo refletir sobre crenças já estabelecidas. E nas quais, frequentemente, as pessoas preferem não mexer.

Kate Winslet está soberba no papel da mulher solitária, embrutecida, que vive uma vidinha medíocre, num ambiente árido e triste. O ator alemão David Kross (Ralph Fiennes jovem) encarna igualmente com profunda sinceridade o adolescente reprimido que desabrocha para o amor – e para a dor – nos braços da mulher 20 anos mais velha, que carrega um passado pelo qual é cobrada anos mais tarde. A Alemanha olha para si mesma e tenta digerir os fatos de sua história recente, marcada pelo Nazismo.

O filme viaja por cinco décadas e os flashbacks – tão adotados pelos diretores ultimamente – podem, por vezes, cansar, mas não chegam a quebrar o ritmo nem a tensão da história desses dois amantes que, de 1958 a 1995, alterna paixão, raiva, angústia, compaixão, amizade, compreensão e respeito. Se há um excesso de nudez, as atuações não são nunca exageradas. Há uma contenção que deixa, ao final, um gosto amargo, como temos ao perceber que nada podemos fazer por aquele amigo que está irremediavelmente marcado em sua alma por cicatrizes invisíveis.

Um belo e contundente filme, para se ver, ouvir e pensar. E até para ir em busca do livro (de Bernhard Schlink) que o originou, passando de espectador a leitor.

Duração: 124 minutos – classificação: 16 anos (nudez e sexo)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

TESOUROS DE MINAS - BICHINHO


Um nome curioso, um pequeno povoado, casas de adobe, uma rua com calçamento de pedras. Isso é Bichinho.
Peças de rara beleza, uma explosão de criatividade. Cores, formas, materiais surpreendentes. Uma riqueza única. Isso é Bichinho.

A origem do nome não é muito clara, há diferentes versões, mas foi assim que ficou conhecido aquele pedacinho das Gerais, a sete quilômetros de Tiradentes e a 12 de Prados, município do qual é um distrito, desde 1938. O nome oficial é Vitoriano Veloso, inconfidente em cuja homenagem se ergue um monumento em frente à Igreja de N.S. da Penha de França, datada de 1732. O povoado, como outros na região, formou-se no inicio do sec. XVIII, com a descoberta de ouro, explorado à exaustão. Hoje, o ouro daquela gente não está nas minas, mas na sua capacidade criativa, seu respeito à natureza. E na sua simplicidade, que se mantém cativante, em harmonia com o orgulho que denotam por se saberem artistas de valor.

Há 17 anos, Tote (o outro nome de Antonio Carlos) saiu de Embu, São Paulo, e foi para Bichinho, possivelmente guiado por aquele sentimento de missão que acomete algumas pessoas em determinados momentos de suas vidas. Lá, criou a Oficina de Agosto e desenvolveu um pólo de artesanato, agregando em torno de si o povo do local, artesãos que provavelmente não conheciam seu próprio potencial.

Chegar na Oficina de Agosto é como entrar num sonho. Numa região belíssima – as chuvas de janeiro atrapalham um pouco o passeio dos turistas, mas despertam um verde exuberante – as peças de artesanato expostas ao ar livre, dispostas numa total integração com o ambiente, já nos dizem que valeu a pena enveredar por aquelas estradinhas. Lá dentro, uma profusão de peças raras, saídas da imaginação de um homem, o Tote. Ele está em Tiradentes, nos dizem as funcionárias, que também explicam que as peças mais elaboradas são ainda concebidas pelo criador da Oficina. Ele passa a idéia aos artesãos, que as confeccionam com grande habilidade. Os detalhes são preciosos.

Hoje há muitas oficinas de artesanato em Bichinho, inclusive artesãos autodidatas, que desenvolvem suas próprias criações. Encontramos também artistas plásticos com trabalhos mais sofisticados, ainda que usando técnicas e materiais também simples, como papel machê. Madeira de demolição, ferro, tecidos de algodão, lata, e materiais inusitados, como tampinhas de garrafa, vidro, tudo, enfim, pode virar arte aqui.

Comida boa também é arte e em Bichinho o viajante encontra mesa variada e farta no Tempero da Ângela. Sabor na medida, as travessas generosas sobre o fogão a lenha desafiam qualquer idéia de controlar o peso, as calorias. Goiabada com queijo é o tiro de misericórdia. E o cafezinho mineiro, ao final, claro!

Mas... tudo bem, as trilhas na mata da Serra de São José, as caminhadas para comprar ou apenas admirar o artesanato, compensam os pecados da gula. Com certeza, um lugar pra se voltar, e voltar, e voltar.

Para saber mais de Bichinho, Tiradentes e Prados, acesse:
http://www.tiradentesgerais.com.br/bichinho.htm
http://www.tiradentes.net/index.htm