segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

MEIO AMBIENTE - EM LISBOA

Desceu pela Rua do Alecrim em direção à Rua do Arsenal. O inverno agonizava, mas ainda fazia frio. Ajustou o cachecol no pescoço. Sentia as faces geladas, os vasos das narinas comprimidos. Gostava das faces vermelhas, davam-lhe um ar saudável e jovial. Crianças têm faces rosadas, pensou.

As mãos enfiadas nos bolsos do longo casaco procuraram pelos dedos... as luvas de lã que, no último momento, resolvera levar consigo. Um exagero, pensara, mas agora eram definitivamente necessárias. Calçou-as apressadamente. Do Tejo subia um vento gelado.

Imaginou o calor que naquele momento estaria fazendo no Rio de Janeiro e agradeceu a Deus por não estar lá. Se havia algo em que acreditava com todas suas forças era no aquecimento global, muito antes de o assunto virar manchete nos jornais do mundo todo e programa de TV. Não tinha a menor dúvida de que as geleiras derreteriam, os oceanos subiriam de nível, as ondas invadiriam as avenidas e ciclovias, alagariam bares e portarias de prédios de luxo, galgariam escadas numa escalada furiosa. Talvez os surfistas gostassem, pensou. Tinha esta mania esquisita: ter pensamentos esdrúxulos em momentos graves. Talvez para amenizar as preocupações e não perder o bom humor, tão necessário sempre.

Mas a verdade é que a harmonia da natureza estava tão abalada – ia pensando consigo - que, se em alguns lugares a água era ameaça, em outros, sua falta é que era o problema. Barcelona mesmo, com seus milhares de turistas, no verão anterior tivera de ser socorrida por navios carregados de água. E no Brasil? Ouvira falar de regiões em processo de desertificação. Ora, deserto no Brasil? Será que chegariam a tanto? Alheios a suas divagações, a rua centenária e seus passantes seguiam no seu ritmo, sem se preocupar com geleiras e desertos.

Dobrou a esquina, já na Rua do Arsenal. Os armazéns ficavam logo adiante, os cheiros denunciavam sua proximidade. Entrou e saiu de duas ou três lojas. Meio distraída, conferiu os preços do azeite de oliva e foi adiante, retomando o fio dos pensamentos, conversando consigo mesma. E foi assim, pensando em voz alta, que entrou em mais um armazém, onde o meio sorriso do vendedor a trouxe de volta a Lisboa. Devia estar achando curioso aquela brasileira distraída, que parecia não saber bem o que queria. “Azeite, meu senhor, azeite para o bacalhau, é o que eu quero”. Conferiu os preços e acabou optando por uma marca desconhecida que o português de olhos bonitos lhe garantiu ser o melhor.

E lá se foi de volta, provavelmente a única pessoa a estar pensando em aquecimento global e coisas afins, naquela manhã de fevereiro. Coisas como crescimento econômico, escassez de alimentos, consumo excessivo, biocombustíveis, camada de ozônio. Tentava arrumar as idéias enquanto caminhava. São tantas palavras a bater na porta de nossos ouvidos, querendo entrar, ou melhor, entrando mesmo sem bater, fazendo uma algazarra danada em nossa cabeça. E nem os especialistas se entendem: para uns, o planeta está à beira de um colapso, é uma questão de poucas décadas. Outros consideram estas previsões alarmistas, dizem que o mundo não está tão mal assim, que é preciso crescer, não se pode parar a produção, vai haver desemprego, e coisa e tal... Afirmações que às vezes são verdadeiras armadilhas, ela tinha certeza. Parecem convincentes num primeiro momento, mas, quando confrontadas com outras questões, desmoronam. Como as geleiras.

Ah, as geleiras! Era uma questão de tempo, não sabia quanto. Ficou imaginando se ainda estaria viva para ver a orla carioca devorada pelo Atlântico. E se George Bush também viveria o bastante para ver no que deu não assinar o Protocolo de Kioto. Talvez se refugiasse no Texas.

Lembrou das postas de bacalhau que deixara dessalgando e iriam comer no jantar do dia seguinte. Subitamente, num desses truques que só a mente sabe armar, imaginou os bacalhaus levados pelas ondas gigantescas, nadando – ainda que salgados e sem cabeça - nas belas avenidas da zona sul carioca, invadindo os restaurantes onde seus filés são vendidos a preço de ouro. Novamente pensamentos brincalhões, como palhacinhos que pulam de caixas-surpresa, a assaltavam. Lembrou-se de um antigo programa de TV. “Vocês querem bacalhau?” gritava Chacrinha para sua platéia, em tempos longínquos, quando ninguém imaginaria que geleiras pudessem derreter como picolés ao sol. “Pois aí estão os bacalhaus!”, falou em voz alta, subindo, com ar grave, a bela Rua do Alecrim.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

MONDAY, BLOODY MONDAY

Mensagem recebida do site Care2 PetitionSite:

On Monday, Masouda al-Samouni lost her 10-month-old son to an Israeli missile attack. She had been preparing food for the baby when the missile struck. "He died hungry," she said.

With 1.5 million people, the Gaza Strip is one of the most densely crowded areas in the world, and Israeli artillery, tank and missile fire can easily cause civilian casualties and deaths.

At least a quarter to one-third of deaths in the recent attacks have been civilians. Unlike other conflicts where there's a chance to flee the war zone, Gaza itself has become the war zone, and there's nowhere else for the population to go.

Israel has the right to defend itself against Hamas rocket attacks, but this "war" is a disproportionate response, placing thousands of civilians at risk of injury and death.

So far, Israel has resisted international calls for a ceasefire. The United States has a special relationship with Israel. Let's use that goodwill to bring an end to the violence in Gaza. Please act today!

Take action link: http://www.care2.com/go/z/e/Aejan/yY6h/fe4D
-------------------------------------


NÃO-AMERICANOS TAMBÉM PODEM ASSINAR.

Na segunda-feira (dia 5), Masouda al-Samouni perdeu seu filho de 10 meses para um míssil israelense. Ela preparava o alimento do bebê quando foram atingidos. “Ele morreu com fome”, disse ela.

Com 1,5 milhão de habitantes, a faixa de Gaza é uma das regiões mais densamente povoadas no mundo e disparos da artilharia israelense, de tanques e mísseis facilmente atingem a população civil.

Pelo menos, um quarto a um terço das mortes fruto dos recentes ataques são de civis. Diferentemente de outros conflitos, quando se pode fugir da zona de combate, a própria Faixa de Gaza tornou-se a zona de guerra e a população não tem para onde correr.

Israel tem o direito de se defender dos foguetes do Hamas, mas esta “guerra” é uma resposta desproporcional, colocando em risco a vida de milhares de civis.

Até o momento, Israel tem ignorado os pedidos internacionais por um cessar-fogo. Os Estados Unidos têm um relacionamento especial com Israel. Vamos usar esta relação de boa vontade para pôr um fim à violência em Gaza. Por favor, tome uma atitude, hoje!

Clique no link: http://www.care2.com/go/z/e/Aejan/yY6h/fe4D

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

CANTAREIRA


O madeirame range, a água faz desenhos iluminados no casco das embarcações.


No Santos Dumont, um avião da TAM pousa, um da Gol decola. O da Varig taxia na pista.

As pessoas estão agitadas, ruidosas. As crianças, excitadas. Muitos viajam pela primeira vez e se surpreendem com as dimensões da barca, que oscila, começa a dar ré, manobra e aponta para Niterói.

Lévy-Strauss que me perdoe, mas, apesar da poluição, a Baía de Guanabara não é uma boca banguela.




Na ponte, serpente marinha, à distância, a lataria dos veículos brilha ao sol. Engarrafados.


A barca segue. Seu jeito de matrona pesada não tira sua beleza, ao deslizar suave sobre as águas prateadas. Que privilégio, ter um prazer assim tão ao alcance das mãos, dos olhos!

Travessia Rio-Niterói, 06/09/2008