quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

FIM E RECOMEÇO

Para o Natal, que não faltem a doçura, o abraço fraterno, um brilho nos olhos de criança, tenha a idade que tiver.

Para 2009, uma reflexão: para o ano ser realmente novo será preciso resgatar o que é antigo, voltar no tempo, rebobinar a fita, retroceder a corda do relógio, a uma época em que o Homem se integrava com a Natureza, quando antigos saberes eram preciosos. Um tempo de mais cordialidade e menos competição, de mais simplicidade.

Que em 2009 tenhamos o olhar mais atento para as pequenas alegrias, os pequenos milagres que acontecem a cada dia, e menos para as bugigangas nas vitrines - todas aquelas coisas de que não precisamos para sermos felizes, como diz Frei Betto (evocando Sócrates, o filósofo, não o jogador de futebol...).

E com muito bom humor! Sem ele, não há salvação.

(foto: brotos da árvore-mãe)


PS: Chega pela internet um texto de Clarice Lispector, presente da amiga Jussara Câmara.

Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só setem uma chance de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade....

sábado, 13 de dezembro de 2008

O HOMEM QUE REINVENTOU, NAS TELAS, A LITERATURA



 Por Vidas Secas, o cineasta Nelson Pereira dos Santos já seria imortal. Mas ele foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em março de 2006 e, assim, virou imortal na casa de Machado também. Nada mais justo! Nelson adaptou para o cinema várias obras literárias, transpondo para telas a vida impressa, latente, nos livros, transformando palavras em imagens. No dia 1º, a ABL fez uma homenagem ao mestre do cinema, por seus 80 anos, completados em outubro.

Amor à primeira vista, assim Cícero Sandroni, Presidente da casa, definiu a relação de Nelson com a ABL. A seu lado, Cacá Diegues, bastante emocionado (aliás, todos estavam) exaltou o homenageado não apenas pelo que ele fez, mas pelo que ele fez os outros fazerem. Cacá voltou a seus 15 anos, a um ato de protesto do movimento estudantil, durante o qual foi exibido Rio 40 Graus. O filme havia sido vetado pelo chefe de polícia porque “no Rio nem faz 40 graus”. Foi uma experiência marcante, era o contato com o Brasil real, disse ele.

Cacá Diegues contou ainda como NPS exercia um misto de compaixão e complacência aos assistir aos curtas que ele e outros aspirantes a cineasta faziam e levavam para o mestre avaliar. Para Cacá, a importância de Nelson no cinema nacional é tamanha, que, desde Rio 40 Graus, não se faz no Brasil um fotograma sequer sem que Nelson esteja presente nele.

“Cinema é o verdadeiro elixir da longa vida”, declarou Luiz Carlos Barreto. Para ele, Nelson é um alquimista e feiticeiro, que lida com o racional e o emocional de modo único. Contou que, sem jamais ter operado uma câmera, foi designado por NPS para ser o diretor de fotografia de Vidas Secas e lembrou a cena em que a cachorra Baleia é morta. A cena ficou tão real que rendeu protestos de entidades defensoras dos animais, em Cannes, onde o filme foi exibido. Para LCB, o projeto de Nelson sempre foi o cinema brasileiro, e não seu prestígio pessoal.

Walter Salles não é apenas um belo homem, bom de se ver, é também um prazer ouvi-lo. Para falar de NPS, Walter evocou o escritor argentino Jorge Luis Borges (não sei se era ao poema abaixo que ele se referia, mas pode ser...), dizendo que, no cinema nacional, Nelson deu nome ao que não havia sido ainda nomeado. Ele afirmou que, depois de Rio 40 Graus, nada seria como antes na cultura brasileira. “Ele incorporou o não dito [...] abrindo janelas [...] e revelando a identidade brasileira.” WS lembrou que o processo de florescimento das artes no Brasil foi interrompido em 1964/68. Citou o livro O Chão da Palavra - em que José Carlos Avellar esmiúça a relação do cinema com a literatura, que teria inventado o cinema para que este pudesse reinventá-la -, dizendo que NPS vai mais além.

Sobre a dificuldade de transpor para o cinema obras literárias, Walter Salles contou a historinha dos 2 ratinhos que, numa cinemateca, roíam um rolo de filme. Até que um vira para o outro e diz: “O livro era muito melhor”. Muito boa!

Disse ainda que NPS soube falar de todos os cárceres que herdamos (numa referência a Memórias do Cárcere, livro de Graciliano Ramos, filme de NPS). E ressaltou o lado humanista do cineasta, lembrando seus documentários. Só fez uma “reclamação”: por conta do chá das 5 da Academia, Nelson não aparece mais na produtora de Walter. “Mas pelo menos se sabe que ele agora é imortal”, concluiu.

Com a alegria de um garoto, Sandroni contou que, com o cineclube criado por Nelson na ABL, eles voltaram à juventude, ao tempo de cineclubistas.
Foi uma cerimônia bonita, alegre, emocionada, descontraída. Coroada com a exibição de Rio 40 Graus. Nelson Pereira dos Santos merece tudo isso e o que mais vier de homenagens a esse homem, feiticeiro do cinema, reinventor da literatura.
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O Sul
Jorge Luis Borges

De um de teus pátios ter olhado
as antigas estrelas,
do banco da sombra
ter olhado
essas luzes dispersas
que minha ignorância não aprendeu a nomear
nem a ordenar em constelações,
ter sentido o círculo da água
na secreta cisterna,
o odor do jasmim e da madressilva,
o silêncio do pássaro adormecido,
o arco do saguão, a humidade
- essas coisas, acaso, são o poema.

domingo, 7 de dezembro de 2008

MATHEUS DA MARÉ, 8 ANOS

A Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 60 anos este mês. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 18 em julho. Matheus mal chegou (ou nem chegou) aos oito. Um tiro de fuzil interrompeu sua história. As fotos estão nas primeiras páginas. Dentro da pequena mão, uma moeda de um real.

Quanto vale a vida de Matheus? E de tantos outros: crianças, jovens, adultos, idosos, civis, fardados? Nomes que viram números, estatísticas. São dados numéricos, fotos de mães lancinadas pela dor. E o sangue escorre.

Uma mensagem chega pela internet, vinda da Maré e retransmitida por grupos virtuais: “Menino de 8 anos morre na Maré, a polícia o matou, moradores estão revoltados com essa situação, já é o segundo q morre essa semana. O corpo está lá com o dinheiro do pão na mão. precisamos de um advogado, é urgente! Nos ajudem, por favor!”. Ao final, um número de celular. Quanto desespero, quanto desejo de solidariedade!

Horas mais tarde, outra mensagem chega ao grupo virtual. É Silvana Sá, uma jovem mãe, jornalista. O nome é familiar, a conheci num curso há poucos anos. Ela escreve: “O fotógrafo Naldinho Lourenço, da Maré, fez a cobertura da trágica morte do menino Matheus e também do sepultamento.[...]. Que Estado é esse, que desrespeita o mais fundamental direito, que é o direito à vida? Que política de segurança é essa que extermina as camadas mais pobres da sociedade, que considera cidadão apenas as pessoas provindas da classe média pra cima?”.

Aqui, querida mãe e colega, eu diria, não minimizando a tragédia da Maré, mas com alguma lucidez de quem está mais distante: os mais pobres são, sim, os mais atingidos por este estado de coisas, devido a sua vulnerabilidade, mas a insanidade, a irresponsabilidade das autoridades tem atingido a todos. Crianças são baleadas nas favelas e dentro dos carros de seus pais. Todas igualmente únicas para suas famílias e para a sociedade. Todas preciosas. É a socialização do horror.

E ela prossegue: “Olhar as fotos que foram publicadas no site Viva Favela é ter uma pequena dimensão da dor e do choque sofrido por todos nós [ ..].O desejo agora é que esse pequeno anjo esteja num lugar livre da dor, livre do medo do tráfico, do medo da polícia, do medo da milícia. Desejo de que essa mãe não sucumba à dor [...]. Sabemos que ficarão para sempre os sons de suas gargalhadas, de suas bagunças em casa... mas também o som daquele único disparo que matou impiedosamente aquela criança. [...] sou moradora de comunidade, estava lá ontem, tenho um filho de 4 anos - o meu bem mais precioso - e não consigo imaginar o que seria de minha existência sem a existência dele.”

Leio, em outra mensagem, uma entrevista com o presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro, Charles Guimarães, que diz: “a ONG Uerê e a associação de moradores estarão juntos nessa luta”. A Uerê é um projeto de Yvonne Bezerra de Mello, aquela que socorreu os meninos vítimas da chacina da Candelária (1993). Lembro-me de, na época, ver sua imagem acolhendo os meninos, dando-lhes o colo que talvez nunca tenham tido. E ouvi comentários do tipo: “ela deve ser meio maluca...essas madames deviam procurar algo melhor para fazer...” Ah! se tivéssemos mais Yvonnes na administração pública, talvez ontem Matheus tivesse comprado seu pão em paz.

Mas erguem, por exemplo, uma Cidade da Música, superfaturada, quando a “música” que freqüentemente ecoa na cidade são tiros, gritos, choro, lamento. E ignoram que nas calçadas uma legião de pessoas faz sua moradia. E não me venham dizer que segurança pública não é assunto municipal. É de todos os governos, de todo cidadão.

Não há vencedores nessa batalha. Todos nós somos perdedores. Cada um com seu prejuízo: psicológico, material, social, econômico, moral... O policial que atirou também é um perdedor, e não estou partindo (apenas) de uma visão espiritual, religiosa. Uma testemunha disse que viu um PM em prantos e repetindo “Matei uma criança”. A chefia da Polícia diz que houve troca de tiros, mas os olhos do oficial não encaram o repórter ou a câmera ao dar a declaração. As evidências no local não ajudam a versão da PM. E uma reflexão a respeito do palco de guerra em que nossa cidade se transformou também reforça a versão de que o policial realmente atirou na criança.

Mas, ele atirou na criança ou numa suposta ameaça que julgava estar atrás daquele portão? Não, não me condenem por me compadecer também deste policial. Pode ser um frio assassino, indiferente à vida humana? Sim, pode ser. Mas pode ser um profissional despreparado, desequilibrado, destroçado psicologicamente. Será que ele tem filhos? Esposa? Mãe?

Não, não estou aqui defendendo a política de segurança que mete o pé na porta. Ela é abominável e rejeitada por policiais escrupulosos (veja artigos abaixo). Defendo apenas que se olhe o todo, o entorno, o cenário surreal que tomou conta desta cidade (e de outras, infelizmente). Caso contrário, mergulharemos cada vez mais numa guerra fratricida, buscando culpados, vingança, justiça questionável e ineficaz.

RIO DE PAZ, POSSÍVEL AINDA? (1)


Há duas semanas acontecia na sede da ABI um Fórum de Segurança Pública e Cidadania, promovido pelo movimento Rio de Paz. Acompanhei parte do encontro. O presidente do movimento, o teólogo Antonio Carlos Costa, trouxe os fatídicos números da violência. São homicídios dolosos, desaparecidos, feridos. Para Antonio Carlos, não há como discutir qualquer avanço nessa área sem discutir antes o direito à vida. Ele afirmou que espera para 2009 uma ampla mobilização popular, pressionando o governo para que esses números despenquem. O público reduzido não correspondia a esta expectativa. Tudo bem, mobilização, hoje, se faz também no mundo virtual, mas periga acontecer o que o Bispo Robinson mencionou em sua fala, já no período da tarde: há muita elaboração que não é posta em prática. Não podemos esperar que o Pronasci e projetos como o Território de Paz, lançado pelo Presidente Lula há dois dias, sejam ações milagrosas.

Pacto Social
O Coronel Mario Sergio de Brito Duarte há 28 anos lida com segurança pública. Foi comandante do Bope. Jaqueline Muniz é doutora em Ciência Política, antropóloga. Coube a eles falar de Pacto Social. Suas falas não se cruzam, mas podem revelar diferentes ângulos de uma situação, ambos importantes: a visão de quem está dentro e a visão acadêmica de quem pesquisa. O oficial da PM fez uma retrospectiva da escalada da violência no estado, agravada após os anos 1980, com a disseminação do consumo de cocaína. Ele não gosta de falar em “crime organizado”, prefere “crime coletivizado” e vê cada facção como uma sub-nacionalidade. Lembrou que as vozes da ciência foram caladas por vários anos, só voltando a se manifestar após o fim do regime de exceção. E afirmou que a desigualdade social é fator essencial do crime.

O coronel descreveu o que chama de conflito urbano armado: envolve pessoas coletivamente em áreas urbanas, com artefatos, condutas e táticas de guerra, grande número de mortos, mutilados, desaparecidos; segue uma ideologia que não é revolucionária, política, mas de facção, que tem a idéia de soberania de territórios. Ele usou a expressão “idéia de pertencimento”, muito citada por estudiosos do tema. O jovem, muitas vezes desprovido de educação, apoio da família e, principalmente, perspectivas, busca uma identidade, um grupo. E o tráfico está ali, à espera, pronto para fazê-lo sentir-se o rei da favela.

Duarte defende a presença, moderada, das Forças Armadas na repressão ao narcotráfico e vê como uma das soluções a retomada pelo Estado dos territórios ocupados pelo crime. Entende como necessária a parceria do Estado com a iniciativa privada, as igrejas, o terceiro setor e também a libertação psicológica das comunidades e a implementação de uma cultura de paz. Ele questiona e considera complexa a proposta de um Pacto Social, que, para ele, soa hermética e dá a idéia de um comportamento sem questionamentos.

Jaqueline é uma metralhadora falante. É preciso algum tempo para digerir e organizar na mente o que ela diz. “Um mundo sem liberdade não precisa de polícia. Numa sociedade livre, democrática e plural, como sustentar a ordem pública?”, pergunta ela. Traça um contexto histórico, um mundo pré-sociedade, marcado pela desconfiança, incerteza, onde não havia pacto algum, apenas a posse, com cada um querendo se proteger, se armar mais que o outro, acreditando que a qualquer momento seria atacado. Um mundo de individualismo. Ela falava de pré-sociedade, mas isso não soa familiar?

Entretanto, acrescentou ela, os mecanismos de proteção geram mais insegurança e os recursos são finitos. O pacto é essencial, acredita Jaqueline, pois no mundo precário da posse, como ela não tem o consentimento do outro, recorre-se ao terror. A etapa seguinte é o dano social, a eliminação do estado de direito. “Para policiar é preciso pacto”, disse ela, enfatizando que quanto menor o consentimento, menos eficaz é a polícia. Segundo ela, a repressão é necessária, mas deve ser a menor possível; antes dela, vêm a auto-regulação, prevenção, dissuasão. Destacou ainda que as ações policiais se inserem no campo da segurança pública, mas nem todas as ações de segurança pública são de competência da polícia. Sem uma política pública clara nada funciona, pois não se sabe que modelo seguir, afirmou.

Num ponto os discursos de Jaqueline e Duarte se tocam. “A polícia não atua sobre comportamento, ela altera as oportunidades; intervém sobre as atitudes e não sobre as trajetórias”, disse ela. Já o coronel usou a equação: delito = desejo de delinqüir + oportunidade, destacando que é sobre este último que a polícia atua. Ele afirmou que por muitos anos o governo federal não se importou com segurança pública e que policiais bem preparados não se formam de uma hora para outra. Duarte entende que os modelos de participação da polícia dentro da sociedade devem ser renovados e melhorados.

RIO DE PAZ, POSSÍVEL AINDA? (2)


Os últimos 20 anos
Outro oficial da PM esteve no encontro: o Coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante geral da PM-RJ. Ele começou sua fala remontando ao Império, quando a média era de 30 assassinatos por ano (1808), mas observou que até hoje a “Corte” escolhe quem é cidadão. Para o coronel – que trocou o vestibular para matemática pelo ingresso na polícia, por oferecer possibilidade de emprego em prazo mais curto - os policiais vêm tendo de se adaptar a mudanças em seu treinamento, em função das diferentes visões políticas. Os sucessivos governos exigem do policial comportamento contraditório. Ele, por exemplo, foi formado para lutar contra a guerrilha e ensinado que porta se abre não com chave, mas com o pé. Lembrou também o tratamento dado pela mídia às ocorrências criminosas, o tratamento jocoso das rádios, em programas sensacionalistas onde a Baixada Fluminense e os negros (como ele) eram sempre os protagonistas.

O ex-comandante da PM destacou a atuação do Coronel Nazareth Cerqueira, que mudou a filosofia da polícia (Ubiratan era tenente na época), a ordem passou a ser “tirar o pé da porta”, trocar a força pelo serviço. Ele seguiu, traçando um panorama da época: surgiram as idéias de polícia comunitária e dentro da corporação houve resistência, por conta de desconhecimento, falta de informação. As ONGs ainda não estavam estruturadas como hoje e ninguém entrava nos batalhões. O Governo Brizola (1983-87) foi o responsável por essa mudança, mas logo começou a ser atacado pela mídia e em 1987, com a eleição de Moreira Franco, volta o “pé na porta” e todo um trabalho de arejamento e humanização da polícia é perdido. Brizola e Cerqueira voltam em 1991 e vários projetos, articulações com lideranças comunitárias, contatos com mídia, academia, são feitos. Mas em 1995, com a eleição de Marcelo Alencar, generais voltam a ocupar postos na polícia é criado o prêmio faroeste. O profissional policial era um mero cumpridor de ordens, sem questionar. Sua motivação passa a ser a recompensa financeira. A sociedade começou a clamar por mudanças.

No período 1999/2002 o governo Garotinho mistura diferentes profissionais na segurança: militares + acadêmico (Luiz Eduardo Soares) + comandante PM. Para o Coronel Ubiratan, mudou apenas o cenário, mas não a filosofia; a gratificação faroeste continuou (Luiz Eduardo deixou a equipe). De 2003 para cá, entram em cena os delegados da Polícia Federal e nesse período todo, destacou o coronel, nunca tivemos uma política pública sequer para a segurança. “É fácil achar o culpado, é só trocar o comandante da PM”, disse Ubiratan. Segundo ele, a mídia mostra diariamente a atuação da polícia, não a do governo. “Em todo o mundo a política atua sobre as polícias, mas a participação social pode minimizar isso”, afirmou ele. Ele revela que no seminário A Polícia que Queremos, 11 eixos temáticos eram voltados para a PMERJ, e apenas um abordava a visão do cliente.

Paulo Roberto, pai do menino João Roberto, morto pela polícia em julho, questionou o coronel sobre a não expulsão dos PMs culpados, perguntando se isso não seria corporativismo. Ubiratan não defendeu a ação dos policiais, e afirmou que eles devem, sim, ser punidos, mas pergunta: em que condições eles atuam? Eles devem ser julgados, mas quem os faz agir assim também deveria ser, afirmou ele. Ele já havia mencionado, num outro momento de sua palestra, que o número de suicídios e separações de casais é grande na corporação.
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Toda vez que um justo grita,
um carrasco o vem calar.
Quem sabe não presta, fica vivo,
quem é bom, mandam matar.
(Cecília Meireles - Romanceiro da Inconfidência)

O Coronel Nazareth Cerqueira foi assassinado no centro do Rio em 1999. Era negro, de origem humilde. Alguns depoimentos publicados na revista Isto É, na ocasião de seu enterro:

"Ele atualmente fazia trabalhos teóricos sobre criminalidade, não andava armado e nem usava seguranças" - Nilo Batista.

"A grande obra do coronel foram suas idéias" - Rubem César Fernandes, coordenador do Movimento Viva Rio.

"Ele lutou contra a discriminação e, numa sociedade preconceituosa como a nossa, sempre encontrou barreiras. Quem sabe sua morte não chama atenção para suas teorias?" - Coronel Jorge da Silva, que ocupou a chefia do Estado-Maior da PM no tempo de Cerqueira.

Há quase dez anos...

RIO DE PAZ, POSSÍVEL AINDA? (3)


Direitos Humanos
O advogado João Tancredo também fez uma retrospectiva, trágica. Lembrou as mães de Acari, as chacinas que se sucederam. Referindo-se a sua passagem pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, disse que “direitos humanos não se pratica de cócoras” e que “a pior coisa é alinhar a instituição com partidos políticos”.

Ele também trouxe números e constatações: 29% dos moradores do complexo do Alemão vivem abaixo da linha de pobreza; em 2007 o Hospital Getúlio Vargas registrou aumento de 45,6% em seus atendimentos; a rua Furquim Mendes deixou de ser rua para virar favela; AR-15 e M-16 não têm origem desconhecida, são fabricados pela Colt, empresa norte-americana; o Estado sonega os dados, a 27ª DP, no Alemão, não é informatizada. Denuncia que a corrida para ganhar as eleições é que determina as ações dos políticos e não a necessidade de políticas públicas. Ele alerta que, ainda que comecemos hoje a reverter este quadro sombrio, já são três gerações aniquiladas.

João Tancredo sempre esteve presente, combativo e destemido, nos momentos dramáticos vividos por nossa população. Mas sua atuação certamente desagradou a poderes constituídos e ele foi exonerado do cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, em 2007. A maioria dos membros da Comissão apresentou renúncia coletiva, na ocasião.
Segurança e fé
Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese de Recife e mestre em Ciência Política. Ele chama de nossos “delitos de estimação” a violência, a corrupção e a injustiça social e diz que o fatalismo tem de ser combatido. E aponta que numa sociedade cujo modelo é a acumulação de bens, a violência é o atalho para se atingir os objetivos. Ele afirmou que a melhor contribuição que uma comunidade religiosa pode dar é ser isso mesmo – uma comunidade de fé, e que já testemunhou grandes transformações em presídios e outros espaços onde há violência.

Ele faz um paralelo entre a galinha e a pata: enquanto a primeira faz alarde ao pôr um ovo, a segunda fica quietinha. Ele propõe que os cristãos comecem a “cacarejar”, para que todos saibam que mudanças são possíveis, embora os ensinamentos digam que se deve esconder o bem praticado. Mas sem dúvida é sensato o que o bispo sugere, já que, longe de significar vaidade, poderia estimular mais ações junto a pessoas marginalizadas. Ele enfatiza que o diferencial dos militantes religiosos é que, além do cuidado, levam afetividade e cita a Assembléia de Deus, de Belém, primeiro grupo a chegar ao Timor Leste para dar assistência.

Participaram também do fórum, mas não assisti a suas palestras: Ana Paula Miranda (IUPOL e IPP), Vinicius George (Sindicato dos Delegados de Polícia); Jorge Antonio Barros (jornalista, mantém o blog http://www.reporterdecrime.blogger.com.br/) e Antonio Carlos Carballo (sociólogo e tenente-coronel da PM). Veja também http://www.abi.org.br/.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

TECENDO SOLIDARIEDADE PARA O NATAL


O mês de dezembro está recheado de eventos e campanhas que ajudarão a manter acesa a luz do SOLAR MENINOS DE LUZ, organização que atua na comunidade Pavão-Pavãozinho e Cantagalo e que tem hoje 400 alunos, do berçário ao Ensino Médio. Agende-se, divulgue e participe:

DE 1º a 30/12 – Nas lojas ANIMALE (http://www.animale.com.br/) estará à venda uma camiseta criada especialmente para a campanha Mamadeira Cheia, que beneficiará cerca de 100 crianças do berçário e maternal do SOLAR.

DIA 13 – Saborear um apetitoso churrasco e ajudar as obras do Solar, este é o cardápio do ALMOÇO BENEFICENTE que acontece na Churrascaria Carretão (http://www.carretao.com.br/). Haverá sorteio de brindes e ingressos para peças de teatro. Convites a 60 reais, com direito a 2 bebidas. Rua Ronald de Carvalho, 55 A e B – Praça do Lido. A partir das 13 horas. Informações com Camilla (8728.5188) ou Neide (9351.9444).

DIAS 13 e 20 – POSTO 6 DE BRAÇOS ABERTOS e PARADA ILUMINADA - Comerciantes de Copacabana se unem para uma bela celebração. A programação inclui música, distribuição de brindes, promoções e decoração especial. Haverá arrecadação de alimentos para o SOLAR, que participa da festa com seu Grupo de Percussão, parceria com o Monobloco. A apresentação será no dia 13, às 16 horas, na Av. N.S.Copacabana, esquina com Rua Rainha Elizabeth, mesmo local onde estará a caixa para as doações (agência dos Correios).
A Parada Iluminada é um desfile que acontece na Av. Atlântica no sábado anterior ao Natal e o SOLAR estará presente no evento com a menina Vitória, 9 anos, aluna do 4º ano e integrante do Coral.
DIAS 27 e 28 – Fruto de parceria da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem com o SOLAR, alunos do coral, de violino e violoncelo apresentam-se na Cidade da Música - Cebolão, Barra da Tijuca.

DE 1º a 30/12 – A administradora IMODATA promove uma campanha de arrecadação de alimentos em condomínios das zonas sul, norte e oeste. http://www.imodata.net/

De 1º a 30/12 - LOJAS ÁGATHA (http://www.agatha.com.br/) – Pulseirinhas à venda nas lojas, com renda para o SOLAR. Preço: 19 reais.