domingo, 24 de agosto de 2008

DA BOLÍVIA A COPACABANA


A República da Bolívia completou 183 anos de sua independência no dia 06/08. Um dos eventos promovidos pelo Consulado Geral do país aconteceu na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no dia 11/08, com danças folclóricas da região andina. No auditório Oscar Guanabarino, muitos rostos morenos, rostos que nos evocam os Incas, os Andes, com suas neves e suas cores. Desses 183 anos, os três últimos foram marcados por um presidente, digamos, com a cara do povo boliviano.

Em suas primeiras aparições, Evo Morales tinha algo de jovem secundarista, aqueles meninos dos Grêmios, das Uniões Estudantis, com palavras e olhares desafiadores, mas carentes de maturidade. Quase três anos após sua eleição (dezembro 2005), Morales consolida sua vitória com o resultado favorável no referendo do dia 10/08. Cerca de 60% dos bolivianos responderam SIM às perguntas: “Você está de acordo com a continuidade do processo de mudanças guiado pelo presidente Evo Morales Ayma e por seu vice Álvaro García Linera?" e "Você está de acordo com a continuidade das políticas, as ações e a gestão do prefeito de seu Departamento?".

Este espaço não tem a pretensão de fazer análise política – já há muitos por aí, e mais capacitados -, mas parece sensato dizer que o “jovem estudante” amadureceu e vai encontrando seu próprio caminho, ainda que o Hugo Chávez sempre esteja pronto a lhe dar “régua e compasso”, tal como a Bahia deu ao ex-Ministro e sempre artista Gilberto Gil.

Em seu discurso, após divulgação do resultado, o presidente boliviano declarou: "A participação do povo, com seu voto, é para unir os diferentes setores do campo e da cidade. E essa união será feita juntando a nova constituição com os estatutos autônomos". E a gente fica pensando: União é uma palavra que deveria percorrer todos os caminhos da América.

Enquanto a República da Bolívia comemora os 183 anos de sua independência, a Paróquia de N.S.de Copacabana do Rio de Janeiro celebra 100 anos de sua fundação. O nome de nossa mais famosa praia veio do país vizinho. Lá, Copacabana é uma cidade histórica e religiosa, onde os Incas cultuavam o Sol, a Lua e outras divindades, às margens do Lago Titicaca, a mais de três mil e oitocentos metros de altitude. O nome Copacabana é a versão latina de "Qopaqhawana", que quer dizer: "mirante do azul". A Senhora de Copacabana, esculpida por Francisco Tito Yupanqui, no século XVI, com feições de princesa Inca, desceu a cordilheira e veio surgir nas areias cariocas.

A Bolívia não é apenas o país onde nasce o gasoduto que alimenta casas e indústrias brasileiras com gás natural e o Brasil não é só Copacabana; Milton nascimento já cantou que “o Brasil não é só litoral, é muito mais que qualquer zona sul”. N.S. de Copacabana – como a Senhora de Guadalupe – é o símbolo de uma América, que sangra pelas “veias abertas” narradas por Eduardo Galeano, explorada e espoliada durante séculos por homens que aqui chegaram e por outros que aqui nasceram. Mas é também terra de valor, fecunda, rica e que guarda uma multiplicidade de gentes, de sabores, de artes, de sons. É poderosa, plena de vida, que pulsa no ritmo das danças desse povo moreno, de trajes despudoradamente coloridos. Colombo, que nunca pisou o continente, certamente os teria amado.

São povos que precisam reafirmar seu lugar na América – nuestra America, dizia Ernesto Che Guevara -, não para conquistar, competir, pressionar, mas para se irmanar. União, caro Evo Morales.

Voltando ao auditório da ABI, uma das músicas apresentadas pelo grupo Yampara foi Leño Verde, um alerta contra a devastação. O maestro Antonio Navarro lembrou que a Bolívia é um país que devota profundo respeito à natureza, possivelmente graças à simplicidade de seu povo e a seus ancestrais Incas. Que nos inspirem a também preservar nossa Terra Brasilis.

http://www.portugaldigital.com.br/noticia.kmf?cod=7582981&canal=159
http://www.paulinas.org.br/diafeliz/maria.aspx?Data=5/8/2004&DiaMariaID=88
http://www.geocities.com/Heartland/Bluffs/6737/Copacabana/Copacabana.htm
http://www.youtube.com/watch?v=Z93I6sUBfaw&feature=related

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

SALA ESCURA


REFLEXOS DA INOCÊNCIA
(Flashbacks of a fool)

A convite da Imagem Filmes assisti, em seção para a imprensa, ao filme de Baillie Walsh, em exibição nos cinemas a partir desta sexta-feira, 22/08. O longa de estréia do diretor pode ser visto sob diferentes olhares. É um filme sobre a infância, mas o título em português não dá sua dimensão correta, sugerindo talvez uma obra mais leve e doce. E ela está longe disso. É um filme sobre escolhas, especialmente as erradas, e suas (no caso, trágicas) conseqüências. É um filme sobre pessoas que podem ser destrutivas, mudando drasticamente os rumos daqueles com quem convivem.

Dividido entre dois momentos da vida de Joe Scot (Daniel Craig), um decadente astro de cinema, o filme peca e perde em parte o ritmo ao se concentrar nos flashbacks, criando na narrativa um hiato longo demais entre presente e passado. Mas consegue se equilibrar no perigoso terreno dos dramas que envolvem relações familiares, sem descambar para o sentimentalismo barato. E Harry Eden leva com competência o jovem Joe Scot.

A morte de seu melhor amigo, que não via há 25 anos, levará Joe de volta a sua cidade natal, onde repousam memórias tanto de um tempo pleno de uma felicidade despojada e sincera, como de trágicos acontecimentos. Dois “personagens” são fundamentais para contar a história desse homem, perdido numa vida fútil, imerso num universo de drogas e sexo. A música é um deles, costurando a abertura do filme, que mescla os dois mundos do protagonista, separados por um abismo. A mímica dos jovens Joe e Ruth sobre a música If there is something (“...when you were young...”), de David Bowie, é um delicioso e delicado momento no filme, que sintetiza a travessia de Joe.

O mar também é um elemento que contracena com os personagens. Sua grandiosidade, seja na costa britânica ou na costa da Califórnia, sua força, que leva, que lava, purifica, desperta. Um filme sobre a dificuldade de se confrontar com o passado e de como é possível resgatar alguma generosidade perdida.

REFLEXOS DA INOCÊNCIA – Flashbacks of a fool
Reino Unido – 2008 – diretor: Baillie Walsh
Elenco: Daniel Craig, Clairie Foriani, Harry Eden, Helen McCrory, Mark Strong
Duração: 124 min
Classificação: 16 anos
http://www.imagemfilmes.com.br/imagemfilmes/principal/filme.aspx?filme=103758

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

MEIO AMBIENTE



UM DUELO DO BEM
Entre 30 de julho e 2 de agosto, o Arte Sesc, no Flamengo, acolheu a mostra FICA NO RIO, com os vencedores do 10º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás. Além de assistir a filmes de curta, média e longa metragens, no sábado o público pôde conferir e participar de um instigante debate com o jornalista André Trigueiro e a publicitária Nádia Rebouças, sob o tema Consumo Sustentável: uma questão de sobrevivência.

A programação indicava uma palestra do jornalista especializado na área ambiental, mas, para sorte da platéia que lotou o confortável teatro do Arte Sesc, mais do que palestra, o encontro dos dois comunicadores foi um adorável “duelo”. O olhar de quem faz notícia e de quem faz propaganda levantou, em alguns momentos, diferentes pontos de vista, que, longe de evidenciarem conflitos, enriqueceram o bate-papo. Tudo devidamente temperado com bom humor e a criatividade que marcam os dois profissionais.

Abordando a responsabilidade da imprensa e da publicidade, Trigueiro e Nádia falaram de modo contundente sobre o impasse com o qual a sociedade se defronta hoje: é necessário reduzir o consumo. Se toda a população da Terra consumisse como as classes mais altas, exemplificou Trigueiro, seriam necessários três planetas iguais para suprir essa demanda. A questão é que consumimos desnecessariamente, hipnotizados por uma propaganda que, segundo o jornalista, citando o professor Evandro Ouriques da UFRJ, é a verdadeira magia negra moderna.

Nádia, que se autodenomina uma publicitária diferente, considera que houve avanços e que o CONAR tem tido uma atuação importante, ressaltando que, por iniciativa da população, já foram tirados do ar comerciais considerados enganosos. Um indicador dessa tendência de mudança no comportamento do mundo publicitário, segundo Nádia, foi a presença de Kofi Annan, ex-Secretário Geral da ONU e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2001, na abertura do 4º Congresso Brasileiro de Publicidade. Ela destacou o comentário de Annan sobre a liberdade de expressão – direito invocado pelos publicitários quando se fala em regulamentar a propaganda – segundo o qual, quanto maior for este direito, maior também a responsabilidade.

Trigueiro observou que no Rio de Janeiro, o FICA tem uma dimensão especial, pois gera um movimento, há uma interação entre as pessoas que participam do evento. Ele lembrou que o movimento ambiental veio de baixo para cima, por isso essa mobilização é fundamental. Ele também considera que é imprescindível que os jornalistas tenham sólida informação sobre o meio ambiente. Cuidar da questão ambiental no mundo de hoje é urgente, pois ela está associada a todas as instâncias da vida em sociedade. O orçamento da União, por exemplo, pode deixar de ser matéria apenas da economia para abraçar também o meio ambiente. Segundo Trigueiro, 10% do PIB brasileiro são de compras públicas; por que não amarrar estas compras, então, a produtos sustentáveis?

Foi um belo começo de noite de sábado e nesse duelo do bem, todos saíram vencedores.

Quer saber mais? http://www.ficanorio.com.br/ - http://www.mundosustentavel.com.br/